Do aqui e do agoraA Bíblia tem por tema principal o tempo, e o futuro. A nossa vida tem um destino – o juízo – e a Bíblia baliza-lhe o caminho, do começo ao fim. Estamos sempre em julgamento; pelo que o tempo humano na Bíblia é o eterno "aqui e agora". Mas esse "aqui e agora" está em contacto permanente com a transcendência, com a eternidade. É uma passagem, uma travessia.A Bíblia criou um estilo peculiar, despido de ornamentos, focado na acção. Quando Deus chama Abraão e este responde: "Estou aqui”, poderíamos perguntar: aqui onde? Na tenda? Fora? À porta? No campo? Não importa: Abrãao está no seu eterno aqui e agora, diante da transcendência, do seu juízo, da sua origem e do seu destino, tudo ao mesmo tempo. Fica evidente o contraste com a tradição helénica da Ilíada e da Odisseia, com a sua pletora de descrições, de detalhes. Enquanto tradução do tempo, a Bíblia é um livro escrito, concebido para a escrita e concebido pela escrita. Os seus verdadeiros redactores – embora se atribuam os seus livros a profetas, por exemplo – permanecem anónimos.Ao ler os livros de Isaías, sabemos que não foi ele que os escreveu. Para começar, os profetas não escreviam: ditavam. Tradicionalmente quemescrevia os seus livros eram secretários, digamos. A exegese estabeleceu que há cerca de duzentos anos a separar o primeiro do segundo livro de Isaías. Mas isso não importa em termos de autoria. Os livros são escritos segundo os ensinamentos de Isaías, e é isso que importa.Provavelmente nem Marcos, nem Mateus, nem Lucas nem mesmo João escreveram os textos evangélicos que temos hoje e que levam os seus nomes. Esses textos foram possivelmente depurados, estabelecidos, fixados por discípulos qualificados para dar a melhor expressão à doutrina que eles ensinavam. A Bíblia é uma obra de eruditos, de conhecedores de uma tradição.Causa pena vermos tanta tinta gasta na imprensa, por ocasião da Páscoa e do Natal, sobretudo, para determinar como era Cristo, como seria o seu pai, José, qual a cor dos cabelos de Maria, e se Cristo passou por aqui ou por ali. Se entrevistássemos algum desses escribas e lhe pedíssemos um depoimento sobre "factos" ele fugiria com repugnância e desdém.

Do aqui e do agoraA Bíblia tem por tema principal o tempo, e o futuro. A nossa vida tem um destino - o juízo - e a Bíblia baliza-lhe o caminho, do começo ao fim. Estamos sempre em julgamento; pelo que o tempo humano na Bíblia é o eterno "aqui e agora". Mas esse "aqui e agora" está em contacto permanente com a transcendência, com a eternidade. É uma passagem, uma travessia.A Bíblia criou um estilo peculiar, despido de ornamentos, focado na acção. Quando Deus chama Abraão e este responde: "Estou aqui”, poderíamos perguntar: aqui onde? Na tenda? Fora? À porta? No campo? Não importa: Abrãao está no seu eterno aqui e agora, diante da transcendência, do seu juízo, da sua origem e do seu destino, tudo ao mesmo tempo. Fica evidente o contraste com a tradição helénica da Ilíada e da Odisseia, com a sua pletora de descrições, de detalhes. Enquanto tradução do tempo, a Bíblia é um livro escrito, concebido para a escrita e concebido pela escrita. Os seus verdadeiros redactores - embora se atribuam os seus livros a profetas, por exemplo - permanecem anónimos.Ao ler os livros de Isaías, sabemos que não foi ele que os escreveu. Para começar, os profetas não escreviam: ditavam. Tradicionalmente quemescrevia os seus livros eram secretários, digamos. A exegese estabeleceu que há cerca de duzentos anos a separar o primeiro do segundo livro de Isaías. Mas isso não importa em termos de autoria. Os livros são escritos segundo os ensinamentos de Isaías, e é isso que importa.Provavelmente nem Marcos, nem Mateus, nem Lucas nem mesmo João escreveram os textos evangélicos que temos hoje e que levam os seus nomes. Esses textos foram possivelmente depurados, estabelecidos, fixados por discípulos qualificados para dar a melhor expressão à doutrina que eles ensinavam. A Bíblia é uma obra de eruditos, de conhecedores de uma tradição.Causa pena vermos tanta tinta gasta na imprensa, por ocasião da Páscoa e do Natal, sobretudo, para determinar como era Cristo, como seria o seu pai, José, qual a cor dos cabelos de Maria, e se Cristo passou por aqui ou por ali. Se entrevistássemos algum desses escribas e lhe pedíssemos um depoimento sobre "factos" ele fugiria com repugnância e desdém.

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