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Conteúdo anterior Anterior A Geometria da OraçãoSou levado a desejar um acto de inteligência que me permita realizar um destino que escolho. Melhor ainda, que não cesso de escolher. Seria preciso, para utilizar uma metáfora geométrica, que o acto fosse simultaneamente horizontal e vertical, e mais vertical até do que horizontal, pois a linha que vai do passado ao futuro está condenada a desaparecer, enquanto, através do meu impulso em direcção ao cume de mim mesmo, sou projectado para o intemporal.Aqui a Razão não basta, pois está alucinada pela sucessão horizontal a que chama História. É imprescindível que à Razão se junte um outro exercício: que à Ratio, enfim, se una a Oratio.Digamos então que o acto mais capaz de nos colocar de imediato fora da absurdez do tempo no mistério do tempo é a oração e, entre todas, o Pai-Nosso.Conteúdo seguinte Seguinte Beleza e EncarnaçãoExistem outras ocasiões em que algo de surpreendente nos expulsa das preocupações do dia-a-dia: a experiência de nos apaixonarmos. Trata-se de um universal humano e é uma experiência do mais estranho que existe. O rosto e o corpo do amado ficam imbuídos de uma vida mais intensa, embora, num aspecto crucial, sejam como o corpo de alguém que morreu: parecem não pertencer ao mundo empírico. O amado olha para o amante como Beatriz olhava para Dante, de fora do devir das coisas temporais. O objecto amado exige que o apreciemos, que nos aproximemos dele com uma reverência quase ritual, e daqueles olhos e daqueles membros irradia uma abundância espiritual que faz de tudo uma novidade.A forma humana é para nós sagrada porque contém a marca da nossa encarnação. A dessacralização intencional da forma humana, pela pornografia do sexo ou pela pornografia da morte e da violência, tornou-se, para muita gente, uma espécie de compulsão. Esta dessacralização, que arruína a experiência da liberdade, é também a negação do amor. Significa querer refazer o mundo como se o amor dele já não fizesse parte. E é esta, sem dúvida, a mais importante característica da cultura pós-moderna – uma cultura de que o amor está ausente, e que, por se sentir perturbada pelo amor, tem medo da beleza.