Da Palavra e da LínguaNo princípio, Deus falou em hebraico – ou pelo menos os redactores da Bíblia registaram em hebraico aquilo que mais tarde se declarou serem as palavras de Deus . E era tudo muito bom – pelo menos enquanto o povo de Deus soube ler, escrever e falar hebraico. No entanto, uma das maiores criaturas humanas entrou em cena e mudou o mundo tal como ele era conhecido. Em 333 a.C., Alexandre Magno conquistou o Mediterrâneo e parte do antigo Médio Oriente e fez da sua língua materna – o grego – a língua franca do seu império. No mundo real, tal como no Jardim do Éden, as acções têm consequências: por tê-lo feito, a maioria dos judeus que vivia fora da terra de Israel perdeu a capacidade de ler a palavra de Deus na sua língua original. Ninguém foi amaldiçoado, mas, como na narrativa do Génesis, era preciso trabalhar para restaurar as palavras de Deus e devolvê-las ao seu povo fora da terra do jardim de Israel.Esse trabalho começou no século III a.C. em Alexandria, o centro cultural do mundo helenístico, e prolongou-se por vários séculos. Para aumentar o acervo da sua biblioteca mundialmente famosa, como o relata a Carta de Aristeas do século II, o rei Ptolomeu II Filadelfo encomendou a tradução do Pentateuco de hebraico para grego. Enviou uma delegação a Eleazar, o Sumo Sacerdote em Jerusalém, solicitando-lhe que nomeasse seis homens cultos de cada tribo de Israel para realizar a tradução. Esses setenta e dois homens viajaram para Alexandria com um texto autorizado das escrituras hebraicas e concluíram as suas traduções na ilha de Faros em setenta e dois dias. Quando Demétrio, o bibliotecário real, leu em voz alta uma cópia da tradução, ela foi aprovada pela corte e pelos judeus alexandrinos e tornou-se a sua Bíblia e a Bíblia de todos os outros judeus de língua grega.