Do dom do perdãoA primeira razão da resistência ao perdão é a sua gratuidade. Não julgamos que ele seja possível, ou, pelo menos, encaramo-lo como uma coisa alheia à nossa experiência humana, porque nos parece, com razão, a experiência mais completa de gratuidade. E isso cria em nós um profundo mal-estar ou, no mínimo, um certo embaraço.Trabalhar por alguma coisa que não ofereça uma contrapartida parece-nos absurdo, alheio à nossa natureza. Disso é sinal o facto de uma tal lógica comercial também nos ser imposta na relação com Deus, naquela necessidade tão difundida de 'castigo e recompensa' de que estamos tão convencidos (ou de que nos deixámos convencer…) O bem por si mesmo – o «bem comum» de uma sociedade e o «bem da comunhão com um Deus de amor» – não nos parece suficiente por si só. Exigimos uma contrapartida.Ora, o perdão é, como diz o seu próprio nome, uma experiência de gratuidade absoluta: o termo «perdão» deriva do verbo latino medieval 'perdonare', ou seja, do verbo 'donare' precedido do prefixo de reforço 'per'. Etimologicamente, portanto, significa «dar de forma excessiva». Trata-se de um ato absolutamente gratuito: dar sem que haja justificação alguma por parte do recetor, sem que haja mérito algum naquele a quem o dom é oferecido. Toda a razão desse dom reside em quem perdoa, que conhece o sentido desse seu modo de agir e a fonte onde poderá procurar as energias necessárias para oferecê-lo.Para perdoar ou para acolher o perdão, portanto, é necessário, antes de mais, acreditar que ele é possível, que a gratuidade entre seres humanos – e entre as criaturas e Deus – está ao nosso alcance. Isso, porém, requer a memória daquela gratuidade essencial, experimentada desde o nascimento, por intermédio da qual o próprio facto de termos vindo ao mundo é fruto de um dom completamente gratuito. No fundo, o primeiro acto de cada vida – vir ao mundo – é, fundamentalmente, uma experiência de gratuidade, não escolhida por nós, mas vivida como puro dom.Para vencer a dificuldade em perdoar, precisamos de acolher como possível a experiência da gratuidade: recordando que ela precedeu o primeiro instante de vida, reconheceremos o seu valor vital e humanizante.

Do dom do perdãoA primeira razão da resistência ao perdão é a sua gratuidade. Não julgamos que ele seja possível, ou, pelo menos, encaramo-lo como uma coisa alheia à nossa experiência humana, porque nos parece, com razão, a experiência mais completa de gratuidade. E isso cria em nós um profundo mal-estar ou, no mínimo, um certo embaraço.Trabalhar por alguma coisa que não ofereça uma contrapartida parece-nos absurdo, alheio à nossa natureza. Disso é sinal o facto de uma tal lógica comercial também nos ser imposta na relação com Deus, naquela necessidade tão difundida de 'castigo e recompensa' de que estamos tão convencidos (ou de que nos deixámos convencer...) O bem por si mesmo - o «bem comum» de uma sociedade e o «bem da comunhão com um Deus de amor» - não nos parece suficiente por si só. Exigimos uma contrapartida.Ora, o perdão é, como diz o seu próprio nome, uma experiência de gratuidade absoluta: o termo «perdão» deriva do verbo latino medieval 'perdonare', ou seja, do verbo 'donare' precedido do prefixo de reforço 'per'. Etimologicamente, portanto, significa «dar de forma excessiva». Trata-se de um ato absolutamente gratuito: dar sem que haja justificação alguma por parte do recetor, sem que haja mérito algum naquele a quem o dom é oferecido. Toda a razão desse dom reside em quem perdoa, que conhece o sentido desse seu modo de agir e a fonte onde poderá procurar as energias necessárias para oferecê-lo.Para perdoar ou para acolher o perdão, portanto, é necessário, antes de mais, acreditar que ele é possível, que a gratuidade entre seres humanos - e entre as criaturas e Deus - está ao nosso alcance. Isso, porém, requer a memória daquela gratuidade essencial, experimentada desde o nascimento, por intermédio da qual o próprio facto de termos vindo ao mundo é fruto de um dom completamente gratuito. No fundo, o primeiro acto de cada vida - vir ao mundo - é, fundamentalmente, uma experiência de gratuidade, não escolhida por nós, mas vivida como puro dom.Para vencer a dificuldade em perdoar, precisamos de acolher como possível a experiência da gratuidade: recordando que ela precedeu o primeiro instante de vida, reconheceremos o seu valor vital e humanizante.

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