Dos Sacramentos e dos DeveresDurante algum tempo, trabalhei na enfermaria de ortopedia, onde estavam senhoras idosas com fraturas nas ancas e nas pernas. As mais novas tinham mais de 60 anos. Aproximavam-se da terceira idade quando tinham 80 anos e, passados os 95 anos, admitiam então que estavam velhas. A princípio, achei estranho chamá-las pelos seus nomes próprios, mas era o costume do hospital e rapidamente me habituei.Essa enfermaria deu cabo de mim, porque o trabalho era muito pesado. Havia uma mulher com barba e sem peito, e as enfermeiras falavam dela disfarçadamente, dizendo que era uma aberração. Tinha um péssimo temperamento, atirava coisas às enfermeiras e os seus hábitos eram imundos, pelo que precisava constantemente de ser limpa. Era um autêntico castigo tratar dela.Tinha de cerrar os dentes e suster a respiração enquanto a lavava, para controlar a minha aversão.Trabalhar nessa enfermaria foi a parte mais dura do meu trabalho no hospital. Uma tarde, quando tinha estado a limpar durante todo o dia e a malvada paciente atirou novamente o seu bacio para o chão, sujando os meus sapatos e as minhas meias, deixei a enfermaria lavada em lágrimas e sentei-me na casa de banho a chorar descontroladamente pela fealdade e miséria da vida. Não consegui parar de chorar durante tempo suficiente para ir avisar a menina Adams, para que as minhas pacientes não ficassem sozinhas, e fiz uma coisa imperdoável: fugi para o meu quarto, onde continuei a chorar. Vou lembrar-me sempre da amabilidade com que a enfermeira-chefe veio ter comigo e me falou das responsabilidades das enfermeiras e da dignidade da sua profissão, bem como do «sacramento do dever». Jamais esqueci essa expressão.

Dos Sacramentos e dos DeveresDurante algum tempo, trabalhei na enfermaria de ortopedia, onde estavam senhoras idosas com fraturas nas ancas e nas pernas. As mais novas tinham mais de 60 anos. Aproximavam-se da terceira idade quando tinham 80 anos e, passados os 95 anos, admitiam então que estavam velhas. A princípio, achei estranho chamá-las pelos seus nomes próprios, mas era o costume do hospital e rapidamente me habituei.Essa enfermaria deu cabo de mim, porque o trabalho era muito pesado. Havia uma mulher com barba e sem peito, e as enfermeiras falavam dela disfarçadamente, dizendo que era uma aberração. Tinha um péssimo temperamento, atirava coisas às enfermeiras e os seus hábitos eram imundos, pelo que precisava constantemente de ser limpa. Era um autêntico castigo tratar dela.Tinha de cerrar os dentes e suster a respiração enquanto a lavava, para controlar a minha aversão.Trabalhar nessa enfermaria foi a parte mais dura do meu trabalho no hospital. Uma tarde, quando tinha estado a limpar durante todo o dia e a malvada paciente atirou novamente o seu bacio para o chão, sujando os meus sapatos e as minhas meias, deixei a enfermaria lavada em lágrimas e sentei-me na casa de banho a chorar descontroladamente pela fealdade e miséria da vida. Não consegui parar de chorar durante tempo suficiente para ir avisar a menina Adams, para que as minhas pacientes não ficassem sozinhas, e fiz uma coisa imperdoável: fugi para o meu quarto, onde continuei a chorar. Vou lembrar-me sempre da amabilidade com que a enfermeira-chefe veio ter comigo e me falou das responsabilidades das enfermeiras e da dignidade da sua profissão, bem como do «sacramento do dever». Jamais esqueci essa expressão.

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