Saltar para o conteúdo
Navegação de artigos
Conteúdo anterior Anterior Da fé e da CrençaNa infância, eu tinha um conjunto considerável de fortíssimas crenças religiosas, mas pouca fé em Deus. Entre a crença num conjunto de proposições e uma fé que nos permite depositar a nossa confiança nelas vai uma enorme distância. Eu acreditava implicitamente na existência de Deus; acreditava também na Presença Real de Cristo na Eucaristia, na eficácia dos sacramentos, na possibilidade de uma condenação eterna e na realidade objetiva do Purgatório. Não posso dizer, no entanto, que a minha crença nessas opiniões religiosas sobre a natureza da realidade última me tivesse dado muita confiança de que a vida aqui na Terra era boa ou benéfica. O catolicismo romano da minha infância era um credo bastante assustador: tive a minha dose de sermões sobre as chamas do inferno. Na verdade, o Inferno parecia uma realidade bem mais poderosa do que Deus, porque era algo que eu conseguia compreender imaginativamente. Deus, por outro lado, era uma figura um tanto obscura, definida através de abstrações intelectuais e não de imagens. Quando eu tinha cerca de oito anos, para a pergunta "O que é Deus?", tive de memorizar esta resposta do catecismo: "Deus é o Espírito Supremo, que, sozinho, existe por Si mesmo e é infinito em todas as perfeições." Sem qualquer surpresa, esta definição significou muito pouco para mim e sou levada a reconhecer que ainda me deixa arrepiada. Sempre pareceu uma definição singularmente árida, pomposa e arrogante.Conteúdo seguinte Seguinte De portas e encontrosSão três as esferas em que mundo da relação se constrói: a primeira é a vida com a natureza, onde a relação se fixa no limiar da linguagem; a segunda é a vida com os homens, onde ela assume a forma verbal: a terceira é a vida com as essencialidades espirituais, onde ela existe sem fala, mas gera linguagem.Em cada esfera, em cada ato relacional, através de tudo o que se nos torna presente, vislumbramos a orla do Tu eterno; em cada um captamos um sopro seu; em cada Tu dirigimo-nos ao Tu eterno, em cada esfera segundo o seu modo peculiar. Todas as esferas estão nele contidas, mas Ele em nenhuma.Através de todas elas irradia a única Presença.Podemos, contudo, despojar cada uma dessa presença: podemos extrair da vida com a natureza o mundo «físico», o da consistência; da vida com os homens, o mundo «psíquico», o da impressionabilidade; da vida com as essencialidades espirituais, o mundo «noético», o da validade. É-lhes então retirada a sua transparência e, por consequência, o seu sentido; cada uma tornou-se utilizável e opaca, e opaca permanece, ainda que as dotemos de nomes luminosos – cosmos, eros, logos. Com efeito, para o homem só existe cosmos, se o universo for para ele uma morada com um lar sagrado onde ele oferece sacrifícios; e só existe eros, quando os seres (e a comunidade com eles) se tornarem para ele imagens do eterno, se tornarem revelação; e só existe logos, se ele se dirigir ao mistério com as obras e o serviço do espírito.O silêncio exigente das formas, a palavra amorosa do homem, a mudez expressiva da criatura – eis outras tantas portas para a Presença da Palavra.Mas quando o encontro perfeito tem de acontecer, as portas unem-se no único portal da vida real, e tu já não sabes por qual delas entraste.